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Brasil registra mais de 50 mil casos de violência contra mulher por dia em 2022

Quase 29% das mulheres relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ELZA FIUZA/AGÊNCIA BRASIL

Mais de 18,6 milhões de brasileiras sofreram violência física, psicológica ou sexual em 2022. São 50.962 casos por dia. Os dados alarmantes são da 4ª edição da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, produzida pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e pelo Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (2).

De acordo com o levantamento, todas as formas de violência contra a mulher apresentaram crescimento acentuado no último ano, com destaque para violência física e ameaças graves com armas brancas e de fogo. Entre 9 a 13 de janeiro deste ano, os pesquisadores ouviram 2.017 entrevistadas de 16 anos ou mais em 126 municípios espalhados pelo país.

A pesquisa indica que 28,9% das mulheres relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, sendo o maior número registrado na série histórica do FBSP. Em relação ao último levantamento realizado, o crescimento foi de 4,5 pontos percentuais, o que revela um agravamento das violências sofridas pelas brasileiras.

A falta de investimento dos recursos orçamentários destinados ao enfrentamento da violência contra mulher pelo governo federal, as restrições ao funcionamento de serviços de acolhimento em razão da pandemia e o avanço dos movimentos ultraconservadores foram apontados como os principais fatores que levaram ao agravamento desse cenário.

Segundo Juliana Martins, coordenadora institucional do FBSP e doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano, a questão da violência contra a mulher é complexa e multicausal, por isso é necessário considerar todos esses elementos.

Para Martins, embora os dados de feminicídios e homicídios dolosos de mulheres em 2022 ainda não estejam disponíveis, essas categorias também devem sofrer incremento.

Violência física e ameaças graves

As ofensas verbais (23,1%), a perseguição (13,5%) e as ameaças (12,4%) foram as formas de violência citadas com mais frequência pelas entrevistadas. Entretanto, é importante destacar o aumento acentuado da violência física e ameaças graves, que podem terminar em morte.

A pesquisa realizada este ano indicou crescimento de 3,1% para 5,1% de ameaças perpetradas com faca ou arma de fogo em comparação com 2021.

Há dois anos, 2.199.388 mulheres haviam sido ameaçadas com facas e armas de fogo, enquanto no ano passado o número de vítimas chegou a 3.303.315, segundo a projeção de dados do FBSP.

“Se o agressor tem arma em casa, aumenta a possibilidade de uma tragédia acontecer. A facilitação ao acesso de armas e o aumento da circulação entre a população são fatores de risco para as mulheres”, alerta Juliana Martins.

Jovens, negras e de baixa renda são as maiores vítimas

Analisando o perfil étnico racial das entrevistadas, as mulheres negras (65,5%) sofreram mais que o dobro de violência em comparação com as brancas (29%) durante o ano passado.

“A mulher negra está mais vulnerável do ponto de vista socioeconômico e de moradia. É a parcela da população que tem mais dificuldade para acessar seus direitos e informações disponíveis, por isso está mais suscetível a violências mais graves”, explica a coordenadora institucional do FBSP.

A pesquisadora também reitera que este cenário de desigualdade não é novo, e que é preciso priorizar este recorte no momento da elaboração de políticas públicos para as vítimas.

Em relação a faixa etária, 30,3% das entrevistadas que relaram episódios de violência tinham entre 16 e 24 anos, 22,8% entre 25 e 34 anos, 20,6% entre 35 e 44 anos, 17,1% entre 45 e 59 anos, e 9,2% com 60 anos ou mais.

As mulheres mais jovens, de acordo com o levantamento, apresentam maiores níveis de vitimização, e são alvos maiores de ofensas verbais. Enquanto, as vítimas de 45 a 59 anos experimentaram os maiores níveis de violências como espancamento (8,2%), ameaça com faca ou arma de fogo (8,7%) e esfaqueamento ou tiro (4,5%).

Os dados também revelam que a medida em que aumenta a renda familiar mensal,
diminui a prevalência de violência mais graves. 
As agressões físicas (13,8%) e espancamentos (7,7%), por exemplo, são muito mais frequentes entre as entrevistadas com renda de até 2 salários mínimos.

No último ano, 31,2% das mulheres com renda de até 2 salários mínimos sofreram violência, 28,4% entre as que ganham entre 2 e 5 salários, 27,4% entre as que têm rendimento entre 5 e 10 salários, e 22,6% entre as que têm mais de 10 salários.

Divórcio

As mulheres separadas e divorciadas apresentaram níveis mais elevados de vitimização (41,3%) do que em comparação com casadas (17%), viúvas (24,6%) e solteiras (37,3%). Os dados demonstram como é difícil romper o ciclo de violência.

Nos últimos 12 meses, as vítimas de violência ou agressão sofreram, em média, quatro episódios nesse período. Enquanto, para as divorciadas, a média foi de 9 agressões.

Denúncias

Quase metade das vítimas relataram não fazer nada após sofrer um episódio grave de violência. Apenas 14% das entrevistadas denunciaram o crime em uma Delegacia da Mulher e 4,8% ligaram para a Polícia Militar.

Para a pesquisadora, o maior obstáculo para as mulheres é reconhecer a situação de violência e pedir ajuda. A vítima é frequentemente responsabilizada pelas agressões praticadas pelo próprio companheiro e julgada por familiares e amigos. “É uma relação permeada pela culpa e pelo medo, por isso é difícil reconhecer a necessidade de ajuda”, afirma.

Como muitas mulheres também são desencorajadas a registrar denúncias ou desacreditam no trabalho da polícia e do sistema judiciário, há muitas subnotificações de ocorrências de violência contra a mulher no país. Por isso, os números podem ser muito maiores.

Como denunciar?

– Ligue 190 (Polícia Militar)

– Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher)

– Acesse o aplicativo “Direitos Humanos Brasil”

– Registre boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher

– Registre denúncia na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos

 

Por:  Letícia Dauer, do R7

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